Descrição
Planta herbácea, vivaz,
que pode chegar até aos 2 m. A raiz, carnuda, amarelada, é longa e muito
ramificada, muito amarga; demora entre 4 e 8 anos para originar novos caules
florais. Caule ereto, fistuloso, glabro, cilíndrico, grosso (de 2 cm. de
diâmetro), liso, verde claro, secagem no inverno e volta a brotar na primavera.
As folhas, de cor verde escura, são de grandes dimensões (as da base, as maiores,
atingem 30 cm de comprimento e 15 de largura), ovais, terminadas em bico, com
nervos paralelos muito evidentes, de peciolo na base e abraçadores na parte
superior, são opostas, o que a diferencia do elebolo branco, planta muito
venenosa do mesmo habitat. As flores desenvolvem-se no topo do caule,
longamente pedunculadas de corola estrelada e amarelo-dourado, com cinco pétalas,
agrupadas de 3 a 10 na axila das folhas superiores, em cada caule reúnem-se
vários grupos, formando como uma espiga de cachos de flores, visíveis à
distância pela sua aparência marcante. Fruto em cápsula oval acuminada,
contendo numerosas sementes que quando amadurecem, abrem-se em duas valvas e
deixa livre numerosas sementes aladas que contém. Floresce no início do verão
(junho-agosto).
Procede da França,
Espanha, países dos Balcãs. Existem pequenas culturas na Alemanha (onde a
espécie é totalmente protegida) e na França. É uma planta típica de prados
entre 900-2400 m. Cresce nos Pirenéus, Cordilheira Cantábrica e nas Montanhas do
Centro (Serra de Guadarrama).
Colheita: no final do
verão ou no outono, quando começa a secar e todos os princípios ativos estiverem
concentrados na raiz; remove-se a terra, corta-se e seca-se rapidamente à
sombra, espalhada em camadas finas; devem ser descartadas as raízes fermentadas
avermelhadas, e mantidas em recipientes, hermeticamente, fechados e em local
seco, por serem higroscópicos.
De acordo com
Dioscorides, o nome do género Gentiana, deve-se ao rei de Iliria, Gentius, o
qual já descreveu algumas das aplicações desta espécie (por exemplo, para baixar
a febre) no século II A.C
Parte utilizada
A raiz.
Não é necessário
desenraizar totalmente a raiz.
Princípios ativos
Substâncias amargas do
tipo secoiridoide, como por exemplo o genciopicrosídeo (também denominado
genciopicrina e genciamarina), o qual se encontra numa proporção de 2-3% e é o
componente, quantitativamente, mais importante que por hidrólise de uma lactona
(genciogenina) e glicose. Também estão presentes
swertiamarina e swerorídeo. O componente, qualitativamente, determinante,
devido ao seu elevado índice de amargura (58.000.000), é a amarogencina
(amarogenciosíedo), glicosídeo acilado que se encontra no fármaco numa
percentagem muito pequena (0,025-0,04%).
Pigmentos amarelos
derivados de xanthones: gentisina, isogentisina, genciosídeo, genciseina;
sacarose, genciobiosa (dissacarídeo com sabor amargo, 5-8%) e trisacarídeo gencianosa.
Fitosterois.
Pectinas ou substâncias
mucilaginosas semelhantes, que podem ser responsáveis pela propriedade que o
fármaco tem de inchaço considerável em contacto com a água.
Ácidos fenólicos
derivados do ácido benzoico, ácido cafeico, ácido protocatéquico.
Alcaloides: gencialutina
e gencianina (vinilpirido--pirona, que para muitos autores é um artefacto
originado no processo de extração).
Enzimas: invertasas,
oxidasas, emulsina e peroxidasas.
Lípidos com uma fração insaponificável.
Óleo essencial que
apresenta uma composição complexa.
Taninos em pequena
quantidade.
Ausência de amido.
Ação farmacológica
Tónico amargo e aperitivo
(princípios amargos). Os princípios amargos são capazes de aumentar as secreções
por via reflexa, devido ao contacto da substância amarga com a mucosa bucal.
Estes compostos amargos interagem com a zona de sabor localizada na base da
língua, enviando um estímulo à crosta cerebral. A partir daí, sai um estímulo
para o vago, glândulas salivares e estômago, incrementando-se as secreções e a
motilidade do estômago. Desta forma, quando a digestão é estimulada, o apetite
aumenta. Portanto, as plantas que contêm estes compostos são usadas em casos de
perda de apetite.
Eupeptica para estimular
a motilidade e secreção gástricas (princípios amargos).
Sialogoga ou estimulante
da secreção da saliva na boca (os princípios amargos estimulam os recetores do
sabor amargo, localizados nas papilas gustativas na parte de trás da língua,
produzindo um aumento da secreção de saliva).
Colerética, colagoga e
protetora hepática (princípios amargos, genciopicrina).
Imunoestimulante
(estimulador das defesas) e leucopoiética. Está provado que a administração da
raiz genciana provoca um aumento na produção de leucócitos (glóbulos brancos),
pelo que se pensa que pode ter uma ação favorável nos casos de depressão
imunitária, em que há pouca resistência às infeções.
Antipirética (alcaloides,
princípios amargos).
Vagolítica e
antiespasmódicoa neurotropa (alcaloides, princípios amargos: genciopicrosídeo).
Observou-se que inibe a motilidade espontânea e as contrações induzidas por
diferentes agonistas (histamina, acetil colina, BaCl2 e KCl) no intestino isolado
da cobaia.
Anti-inflamatória, cicatrizante
e promotora do bom funcionamento da pele (eudérmica) (devido aos lípidos insaponificáveis).
Hemostática (peptina,
oligossacarídeos).
Galactogoga (princípios
amargos).
No uso externo usa-se como
tónico capilar sob a forma de loção.
Indicações
Distúrbios digestivos:
dispepsia, indigestão, hipocloritria (escassa secreção de sucos gástricos),
sensação de saciedade, ptose ou atonia gástrica (estômago caído), flatulência.
Perda de apetite, inaptência
Insuficiência hepática,
distúrbios da vesícula biliar.
Convalescença de doenças
febris.
Contraindicações
Contraindicada no caso de
gastrite, úlceras gastroduodenais, acidez gástrica, diverticulite,
diverticulose, refluxo do esófago, doença inflamatória intestinal.
Não deve ser utilizada
durante a gravidez e lactação (confere um sabor amargo ao leite).
Precauções
Se for utilizado como
tónico digestivo em caso de dispepsias, etc. recomenda-se tomar após as
refeições. Se for usado em casos de anorexia, deve realizar-se de meia a uma
hora antes das refeições.
Pode reforçar as drogas
antidiabéticas (hipoglicémica).
Efeitos secundário e
toxicidade
Ocasionalmente, em
pessoas predispostas, pode provocar dores de cabeça ou cefaleias.
Em doses elevadas pode
provocar irritação gástrica e vómitos, devido aos princípios amargos.
Além disso , foram
recolhidos dados sobre possíveis reações adversas na base de dados FEDRA (Farmacovigilância
Espanhola, Dados de Reações Adversas) do Sistema De Farmacovigilância Espanhol.
Hepáticas: cirrose
hepática.
Não foram descritos
efeitos sobre a sua toxicidade.
Estudos clínicos sobre a sua composição química:
El-Sedawy AI, Hattori M, Kobashi K, Namba T. Metabolism of gentiopicroside (gentiopicrin) by human intestinal bacteria. Chem Pharm Bull (Tokyo) 1989 Sep; 37(9): 2435-7. PMID: 2605687 (PubMed-indexed for MEDLINE).
Este estudo baseia-se no metabolismo do
genciopicrosídeo (gentiopicrin) por parte das bactérias intestinais humanas.
Como parte dos estudos do metabolismo dos componentes do fármaco brutos por
bactérias intestinais, genciopicrosídeo (glicosíedo secoiridoide isolado de
Gentiana lutea), foi incubado, anaerobicamente, com várias classes definidas de
bactérias intestinais humanas. Muitas espécies tinham a capacidade de
transformá-lo numa série de metabolitos. Entre elas, Veillonella parvula ss
parvula produzia cinco metabolitos, que foram identificados como
erithrocentaurin, gentiopicral, 5-hidroximilequisocroman-1-one,
5-hidroximethylisochromen-1-one e trans-5,6-dihydro-5-hidroximetil-6-metil-1H,3H-piranol
(3c) pyra n-1-one.
Menkovic N, Savikin-Fodulovic K, Savin K. Chemical composition and seasonal variations in the amount of secondary compounds in Gentiana lutea leaves and flowers. Planta Med. 2000 Mar;66(2):178-80. PMID: 10763597 (PubMed–indexed for MEDLINE).
Este estudo trata da composição química e
variações sazonais na quantidade de componentes secundários nas folhas e flores
de Gentiana lutea. A investigação química de MeoH dos extratos de Gentiana
lutea de folhas e flores, demonstrou que as xantonas eram a classe dominante dos
componentes. Secoiridoides e flavonoides também foram registados. A quantidade
de metabolitos secundários variava, dependendo da fase de desenvolvimento. Na
fase de floração, as folhas eram ricas em compostos que possuem estruturas
C-glicosídeos, enquanto as estruturas O-glicosídeo acumulam-se, principalmente,
antes de florescer.
Estudos clínicos sobre os seus efeitos a nível digestivo:
Matzkies F, Webs B. Effect of a plant extract combination preparation on gastrointestinal transit time and bile acid excretion. Fortschr Med. 1983 Jul 28;101(27-28):1304-6. PMID: 6618384 [PubMed-indexed for MEDLINE].
Neste estudo observou-se que a toma de um extrato de diversas plantas, entre elas a raiz de genciana, provocavam um aumento do trânsito intestinal e uma estimulação da excreção de ácidos biliares.
Morimoto I, Nozaka T, Watanabe F, Ishino M, Hirose Y, Okitsu T. Mutagenic activities of gentisin and isogentisin from Gentianae radix (Gentianaceae). Mutat Res. 1983 Feb;116(2):103-17. PMID: 6338357 [PubMed-indexed for MEDLINE].
Neste estudo observou-se que as hidroxixantonas da genciana (gencisina e isogencisina), mostram, in vitro, una atividad mutagénica sobre a Salmonella typhimurium.
Estudos clínicos sobre os seus efeitos a nível hepático:
Kondo Y, Takano F, Hojo H. Pharmaceutical Institute, Tohoku University, Sendai, Japan. Suppression of chemically and immunologically induced hepatic injuries by gentiopicroside in mice. Planta Med. 1994 Oct;60(5):414-6. PMID: 7997467 [PubMed-indexed for MEDLINE].
Neste estudo observou-se que o tratamiento com gentiopicrosídeo da raiz de Gentiana macrophylla Pall, em ratinhos, suprimia, significativamente, o incremento do Factor de Necrose Tumoral (TNF) no sangue em doses terapêuticas (30-60 mg/kg/dia) durante 5 dias consecutivos, o que sugere que o gentiopicrosídeo tem um efeito protetor em caso de hepatite, por inibir a produção de TNF.
Orhan DD, Aslan M, Aktay G, Ergun E, Yesilada E, Ergun F. Department of Pharmacognosy, Faculty of Pharmacy, Gazi University, Etiler 06330, Ankara, Turkey. Evaluation of hepatoprotective effect of Gentiana olivieri herbs on subacute administration and isolation of active principle. Life Sci. 2003, 72(20): 2273-83. PMID: 12628447 [PubMed-indexed for MEDLINE].
Neste estudo observou-se o efeito hepatoprotetor da erva florida de Gentiana olivieri administrada em ratos. Confirmou ser bioquímica e, histopatologicamente, que era o seu componente isoorientina o responsável pelo seu efeito hepatoprotetor em doses de 15 mg/kg.
Estudos clínicos sobre os seus efeitos a nível do sistema nervoso:
Ozturk N, Husnu Can Baser K, Aydin S, Ozturk Y, Calis I. Anadolu University, Medicinal and Aromatic Plant and Drug Research Centre-(TBAM), 26470 Eskisehir, Turkey. Effects of Gentiana lutea ssp. symphyandra on the central nervous system in mice. Phytother Res. 2002, 16(7): 627-31. PMID: 12410542 [PubMed-indexed for MEDLINE].
Neste estudo observou-se o efeito do extrato metanólico de raiz Gentiana lutea, em ratinhos, em doses de 250 e 500 mg/kg. Viu-se que provocava um aumento significativo no teste de resistência natatoria e exibiam também uma suave atividade analgésica, sem apresentar efeito sedante nem de fatiga muscular, nas dose utilizadas. Esta ação parece dever-se ao seu conteúdo em compostos secoiridoides, gentiopicrosídeo, swertiamarina e swerósido.
Estudos clínicos sobre a sua ação antiespasmódica:
Rojas A, Bah M, Rojas JI, Gutierrez DM. Smooth muscle relaxing activity of gentiopicroside isolated from Gentiana spathacea. Planta Med 2000, 66(8): 765-7. PMID: 11199140 [PubMed-indexed for MEDLINE].
Outros estudos clínicos:
Num estudo clínico realizado em coelhos, observou-se que o extrato de raiz de genciana provocava um aumento da secreção bronquial.
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