Descrição
Uma planta volúvel, vivaz
e trepadora, que surge de uma rizoma subterrânea. Os caules são vigorosos e
podem atingir os 10 m de comprimento. Ocos, de cor verde intensa, volúveis,
dextrorsos, que trepam, enrolando-se a qualquer suporte. Nascem na primavera e
morrem no inverno. As folhas são palmeado-lobuladas, recortadas, opostas, pecioladas
até 20 cm. As flores masculinas são agrupadas em inflorescências ramificadas
que protegem 5 estames. As femininas são agrupadas duas a duas, sob uma bráctea,
para que a inflorescência tenha a forma de um cone verde claro. Os frutos são aquénios
arredondados.
Floresce de junho a
setembro, vive em solos húmidos com muitos nutrientes, em florestas frescas, alisadas,
despejos e bordas de terras agrícolas.
Parte utilizada
As inflorescências femininas
(estróbilos ou cones) e o pó castanho-avermelhado obtido, sacudindo os cones
(lupulino).
Princípios ativos
Óleo essencial: 0,3-1% nos
estróbilos e 1-3% nas glândulas. Constituído, principalmente, por monoterpenos
(mirceno, linalol) e sesquiterpenos (alfa-humuleno, beta-cariofileno).
Taninos condensados
(2-4%) nos cones.
Flavonoides: derivados da
quercetina, campferol, rutina, xantohumol, isoxantohumol.
Proantocianidinas.
Ácidos fenólicos
derivados do ácido cinâmico: ácidos clorogénico, ácido ferúlico.
princípios amargos
resinosos (15-30% nos estróbilos e 50-80% na lupulina) ou floroglucinois (10%)
alfa-ácidos (2-10%) tais como humulona, coumulona, adhumulona; beta-ácidos
(2-16%) como lupulona, colupulona, adlupulona; produtos de degradação como 2-metil-3-buten-2-ol.
Fitoestrogénios.
Polissacarídeos.
Sais minerais,
especialmente potássio.
Ação farmacológica
Utilização interna:
Sedativo do sistema
nervoso.
Hipnótico (óleo
essencial). Foi provado em ensaios in vitro, que o lúpulo exerce um efeito
indutor do sono em ratos e uma diminuição da atividade espontânea em ratos. O princípio
ativo, responsável pela atividade sedativa, parece ser o álcool
2-metil-3-buten-2-ol.
Antiespasmódica.
Amargo-eupéptico
(princípios amargos resinosos). O lúpulo estimula as papilas gustativas, as quais,
por um efeito reflexo, aumentam a produção de sucos gastrointestinais,
estimulando o apetite.
Bactericida,
especialmente contra as bactérias Gram + e o bacilo tuberculoso (princípios
amargos resinosos).
Estrogénico
(fitoestrógenios).
Antiandrogénico, devido à
sua ação a nível suprarrenal e testicular (fitoestrógenios).
Utilização externa:
Antialgico.
Indicações
Utilização interna:
Ansiedade, nervosismo,
dificuldade em adormecer (insónia).
Perda de apetite,
despepsias, hiposecetoras, digestão lenta e pesada, disquinesias
hepatobiliares, colecitite, espasmos gastrointestinais.
Enxaquecas,
convalescenças.
Ejaculação precoce.
Menopausa e períodos
dolorosos.
Utilização externa:
Dores reumáticas,
neuralgias (lumbagos, ciática).
Acne. Dermatomicose.
Contraindicações
Hipersensibilidade a
qualquer um dos seus componentes.
Síndromes que ocorrem com
hiperestrogenia.
Gravidez. O lúpulo não
deve ser utilizado durante a gravidez devido à possibilidade de indução de
abortos espontâneos, devido ao seu efeito estrogénico. Foram realizados estudos
com animais, utilizando doses várias vezes superiores às humanas, tendo sido registados
efeitos embriotóxicos e/ou teratogénicos, numa ou mais espécies estudadas; no
entanto, não foram realizados ensaios clínicos em seres humanos, pelo que a
utilização do lúpulo só é aceite em caso de ausência de alternativas
terapêuticas mais seguras.
Lactação. O lúpulo não
deve ser utilizado durante a lactação devido à presença de compostos
estrogénicos que podem aceder ao leite materno e provocar efeitos adversos no
lactante.
Precauções e Interações com
medicamentos
A dermatite de contacto
pode aparecer em pessoas que estejam em contacto com a planta (descrita nos
trabalhadores). Este facto deve ser considerado, principalmente, quando a planta
é utilizada externamente (almofadas) (Pradalier A e cols 2002) (Estrada JL e
cols 2002).
O lúpulo pode afetar,
substancialmente, a capacidade de conduzir e/ou para operar máquinas. Os
pacientes devem evitar operar máquinas perigosas, incluindo carros, até que tenham,
razoavelmente, a certeza de que o tratamento farmacológico não os afeta
negativamente.
Interações com medicamentos:
O lúpulo pode aumentar o
efeito sedativo, produzido pelos barbitúricos, benzodiazepinas,
anti-histamínicos H1 e o álcool.
Embora não tenham sido encontradas
mais interações farmacológicas, a colupulona tem demonstrado ser um potente
indutor (para outros autores inibidores) do citocromo P450 hepático em ratos,
sugerindo que os derivados floroglucínicos podiam interagir com os fármacos que
são metabolizados por estes sistemas.
Efeitos secundários e
toxicidade
Foi descrita urticária
sistémica, com artralgias e febre (Pradalier A e cols 2002).
Em grandes doses pode causar vertigens e náuseas.
Estudos
Ensaios sobre os efeitos
estrogénicos:
- Num estudo de
placebo-controlo, em 20 pacientes com afrontamentos, devido à insuficiência ovárica,
foram tratados com um extrato de cones de lúpulo numa dose de 1,6-2,6 g/dia,
observando-se uma diminuição da intensidade e na frequência de afrontamentos
(Goetz, P. 1990).
- Foi estudada a
atividade estrogénica de oito preparações botânicas comumente utilizadas para o
tratamento das perturbações da menopausa. O lúpulo mostrou uma ligação
competitiva significativa aos recetores estrogénicos α e β. Este efeito ocorreu
também numa cultura de células endometriais (Liu J e cols 2001).
- Estudou-se a atividade
estrogénica dos flavonoides do lúpulo, determinando que o mais potente era o
8-prenylnaringenin, competindo ativamente com o 17-estradiol pelos recetores α
e β estrogénicos. Observou-se ainda que nenhum dos compostos tinham atividade
androgénica ou progestogénica (Milligan SR e cols 2000).
Ensaios sobre os efeitos
sedativos:
- Foi administrado um
extrato de cones de lúpulo intraperitonealmente aos ratos, observando-se que em
doses baixas (100-250 mg/Kg) apresentava um efeito sedativo e hipnótico e, em
doses elevadas (500 mg/Kg) tinha efeitos hipodérmicos e anticonvulsantes (Lee,
KM e cols 1993).
- Num ensaio clínico
controlado aleatório, utiliza-se valeriana e lúpulo, comparando com as
benzodiazepinas, em doentes com distúrbios do sono, durante duas semanas. No
início e no fim do tratamento e uma semana após a cessação do mesmo, foram
realizados testes psicométricos, escalas psicopatológicas e questionários sobre
o sono, com o objectivo de avaliar a qualidade do sono, a condição física e a qualidade
de vida. Em ambos os grupos houve melhoria em todos os parâmetros e uma recaída
após a cessação do tratamento. No caso das benzodiazepinas, o aparecimento da
síndrome da abstinência foi observada quando o tratamento cessou. (Schmitz M
e Jackel M.1998)
Ensaios sobre os efeitos
antigonadotróficos:
- Foi administrado um
extrato de cones de lúpulo subcutâneos, 2 vezes por dia durante 3 dias a ratos
fêmeas imaturas, observando-se que houve uma diminuição do número de ovulações,
supressão dos níveis hormonais luteinizantes do soro, supressão da atividade
timidina-quinase no tecido uterino, redução da secreção estradiol E2 na cultura
das células ovarianas de ratos e redução da produção de progesterona em
culturas celulares luteas de ratos (OkamotoR. e Rio KumaiA. 1992).
Ensaios sobre efeitos
antimicrobianos:
- Foi avaliado o efeito
antimicrobiano dos óleos e extratos clorofórmicos do lúpulo , demonstrando atividade contra bactérias Gram-positivas
(Bacillus subtilis e Staphylococcus aureus) e fungos (Trichophyton
mentagrophytes var. interdigitale) mas
não contra as bactérias Gram-negativas (E.
colli) e Candida albicans (Langezaal CR, e cols 1992).
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